19/09/2025 5 min de leitura

O PONTAL QUE QUEREMOS

Nelson R. Bugalho
Advogado Ambiental
Mestre em Direito Penal Supraindiidual (UEM)
Promotor de Justiça do Meio Ambiente (1987-2023)
Vice-Presidente da CETESB (2011-2016)
Prefeito de Presidente Prudente (2017-2020)
(Artigo publicado no jornal O Imparcial)

A sensação de prosperidade econômica já não se faz sentir nos últimos meses, desde que a “marolinha” da crise econômica que assola o Velho Continente e os Estados Unidos respingaram aqui nos trópicos. Apesar disso, ouvimos discursos otimistas que ecoam do Planalto Central e de outros centros de poder. Não passam de falatórios destoantes da dura realidade da maioria das pessoas, sobretudo daqueles que vivem nas regiões mais pobres do país, onde as oportunidades são mais escassas e os empregos disponíveis não são lá essas coisas. 

E pelo que parece a economia brasileira pode dar aquele salto que tanto se propaga. Um estudo recentíssimo do HSBC que projeta a evolução do PIB mundial, noticiado no jornal A Folha de S. Paulo (edição de 23/10/2012, caderno Mercado, p. B1), calcula que o Brasil ainda será uma nação de classe média daqui a 40 anos, ficando atrás até mesmo do pequenino Peru em termos de bem-estar da população, e muito atrás de Chile e Argentina, que terão alcançado um nível de alta renda em 2050, e olha que a atual dirigente do nosso vizinho anda cometendo uma série de “impropriedades” em termos de política econômica.

Como nosso velho Pontal do Paranapanema caminhará ao longo desses próximos 40 anos? Continuaremos a ser apenas um exemplo de persistência e esperança? Voltando os olhos para o passado, nos últimos trinta anos, quatro grandes hidroelétricas foram construídas na região (Rosana, Taquaruçu, Capivara e Porto Primavera), e durante a construção desses empreendimentos milhares de trabalhadores foram atraídos de várias regiões do país. Ao final das construções, poucas centenas de pessoas permaneceram empregadas na operação dessas usinas, deixando milhares de trabalhadores desempregados e que aqui permaneceram. De qualquer forma, essas foram as grandes obras civis que tivemos nas últimas três décadas, e que muito pouco contribuiu para melhorar o bem-estar da população, gerando em contrapartida imensos impactos ambientais e socioeconômicos. 

Tais circunstâncias, somadas ao fato de a questão fundiária ainda não estar resolvida na região, gerou ou pelo menos incrementou conflitos fundiários e sociais que tornaram o Pontal do Paranapanema enigmático, nacionalmente conhecido e evitado pelos grandes empreendedores. Afinal, quem arriscaria investir numa região tão marcada por conflitos dessa natureza?

Embora esse estigma esteja sofrendo um processo de lenta erosão nos últimos anos, o certo é que perdemos a oportunidade de experimentar uma forte expansão econômica quando o país mais se desenvolvia, antes da tal “marolinha”. Resultado: continuamos a amargar a desastrosa posição de penúltima região mais pobre do Estado de São Paulo. Mas com uma agravante: a região mais pobre está ficando menos pobre e se aproximando do Pontal, e a terceira região mais pobre se distanciando, ficando mais rica. Isso quer dizer que não aproveitamos como devíamos os seguidos anos de oportunidades econômicas que melhoraram as condições de vida em todo canto de São Paulo. Melhoramos, é certo, mas não o suficiente para não mais ostentarmos a condição de uma das regiões mais pobres do Estado, só ficando à frente do Vale do Ribeira, com poucas e pequenas cidades.

Estou certo que não somos piores – nem melhores – que os moradores de outras regiões. Creio que falta ao Pontal do Paranapanema um compromisso político de transformação, algo maior que a busca pela resolução de problemas pontuais desta ou daquela cidade. Aqueles que ostentam uma parcela do poder político deveriam ter preocupações outras que vão além de conseguir verbas para ambulâncias, academias da melhor idade ou outras obras/atividades que refletem num curto prazo aquilo que o político mais aprecia: votos.

Só conseguiremos construir uma sociedade mais inclusiva, mais sustentável e mais competitiva se soubermos explorar adequadamente as capacidades da região, criando condições para atrair investimentos que realmente gerem a produção de empregos qualificados e, consequentemente, melhor remunerados.  

  Atrair para a região investimentos que sejam realmente capazes de transformar a vida das pessoas de forma positiva é missão daqueles que chamaram para si essa responsabilidade: políticos e empresários. Mas compete aos primeiros – os políticos – dar inicio a esse diálogo, mas em nível regional e não local. O sucesso no aproveitamento do enorme potencial de desenvolvimento da região está na dependência da tomada de decisões ousadas e bem articuladas. 

Os responsáveis pelas decisões políticas devem promover a convergência dos discursos político e econômico, sobretudo instigando os empresários a enxergarem um cenário em que é possível maximizar as vantagens econômicas de investir no grande sudoeste paulista. Para isso é necessário planejar, construindo um plano de desenvolvimento que contemple uma avaliação econômica e ambiental estratégica para toda região. 

Enfim, apesar do momento de certa apreensão com os rumos da economia mundial (e nacional), temos que reconhecer que o medo, a angústia e o desânimo não são bons motivadores para transformações positivas. Tudo que precisamos para realizar o sonho de um Pontal do Paranapanema mais rico é acreditar que ele possa ser realizado, trabalhando corretamente para que isso aconteça. Nada de otimismo desmedido, nem tampouco pessimismo em demasia. Afinal, como disse Ariano Suassuna, “o otimista é um tolo; o pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso”.  

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