Nelson R. Bugalho
Advogado Ambiental
Promotor de Justiça do Meio Ambiente (1987-2023)
Vice-Presidente da CETESB (2011-2016)
Prefeito de Presidente Prudente (2017-2020)
Mestre em Direito Penal
(Artigo publicado no jornal O Imparcial)
Deveria ser assim: todos aqueles que conservam alguma parcela do poder estatal, sobretudo o político, devem estar comprometidos com os interesses mais relevantes da sociedade. Contudo, os incontáveis escândalos que afloram no Planalto Central e em todos os cantos deste país revelam o mais absoluto descaso com a coisa pública, tudo levando a crer que muitos apreciam o exercício do poder para simplesmente satisfazer interesses ou sentimentos pessoais. De qualquer forma, seja na esfera pública seja na privada, para o bem ou para o mal, o poder é intrigante, e por isso merece uma breve e simples reflexão.
O poder implica no domínio ou controle de pessoas ou situações, conferindo ao seu detentor o direito de decidir e agir. Não importa a condição social, todas as pessoas exercem algum poder em determinadas situações, ou porque tem autoridade moral para isso ou porque tem supremacia de força física. Nietzsche observou que quando alguém faz o bem ou o mal a outros, nada mais faz do que exercitar o seu poder. Ao impingir mal àqueles aos quais se quer fazer sentir nosso poder, até porque a dor é um sentimento muito mais perceptível que o prazer, exercitamos nosso poder. Ao demonstramos poder através do bem, fazemos para aqueles que, de alguma forma, dependem de nós. Agindo isso estaremos dando poder a essas pessoas e, com isso, aumentando o nosso, ou então queremos mostrar-lhes o quanto é bom ficar sob nosso poder. O poder é alimentado com boas ou más ações.
O poder não se confunde com sensação. Só um tolo se sente poderoso através de simples percepção sensorial. Poder não se sente, se exercita. Aqueles que exercitam poderes acima de suas reais forças o fazem porque possuem autoridade moral para isso. Já aquele que detém o poder pela força física jamais terá condições de ir além de suas próprias forças, porque sua força encontra limites físicos e é efêmera.
Quanto maior o desafio, maior será o poder conferido ao vitorioso; uma disputa vencida com facilidade é desprezível, porque em nada ela fortalece o poder. O poder dá lugar ao orgulho, e a natureza orgulhosa do homem se manifesta com maior intensidade nas situações em que disputou algo com seu igual. Não há glória na conquista de um objetivo fácil.
Para muitos, não importa de onde emana o poder, tampouco se ele é legítimo ou não, porque ele sempre é prazeroso. Isso é o que importa para aqueles que são apegados ao poder. É assim desde tempos muito remotos. Os homens de todos os tempos e de todos os lugares sempre se revelaram sequiosos de poder.
O poder fascina e alucina. Só se dobra perante a vontade inexorável de Deus. Somente nesse momento o homem se dá conta da fragilidade de sua condição humana, e seu poder, que é humano, perde seu encantamento.
- NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 64-65.